Consciência Negra: mulheres relatam luta contra preconceito no empreendedorismo em Ribeirão Preto
20/11/2024
Segundo elas, dificuldade em manter o próprio negócio, muitas vezes, esbarra no racismo. Projeto Grana Preta capacita afroempreendedores e ajuda na gestão empresarial. Nilda Maria de Oliveira Borges, Laís Duarte e Josana Amado decidiram abrir o próprio negócio em Ribeirão Preto, SP, mas enfrentaram racismo
Carlos Trinca/EPTV
A confeiteira Nilda Maria de Oliveira Borges começou a vender bolos, bolachinhas e pão de mel há quatro anos para ajudar na renda da família.
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Tudo é feito na cozinha da casa dela há alguns anos, mas Nilda já planeja expandir o negócio e se profissionalizar ainda mais. Mas neste processo de empreender, ela acabou provando o sabor amargo do preconceito.
"Se eu chegar pra vender esse bolo e uma outra pessoa branca chegar para vender o mesmo bolo, ela vende e eu não. E o preconceito está aí. Eles não vão comprar de mim, mas eles comprar dela. Como eu queria um bolo pra mim, eu fui apreender a fazer o meu bolo de cenoura".
Nilda Borges faz bolos e doces para vender
Carlos Trinca/EPTV
A trancista Laís Duarte também esbarrou na mesma dificuldade ao tentar começar o próprio negócio. Ao abrir um salão, há três anos, em Ribeirão Preto (SP), viu potenciais clientes a procurarem e perguntarem 'onde estava o dono' do local.
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"Geralmente, quem chega no estúdio, principalmente por estar de porta aberta, chega e pergunta 'quem é a Laís?' E eu chego 'eu sou a Laís, prazer'. Geralmente é outro empreendedor que eles estão esperando e a gente sente. Isso precisa mudar, as pessoas precisam se conscientizar, buscar conhecimento e respeitar o próximo".
A trancista Laís Duarte abriu o próprio salão há três anos, em Ribeirão Preto, SP
Carlos Trinca/EPTV
Josana Amado e as irmãs dela também enfrentaram racismo quando decidiram empreender no ramo de aromatizadores artesanais.
"Quando eu decidi sair da CLT para realmente tocar o nosso negócio, a gente sente alguns bloqueios de estar em outros lugares. Porque pra gente se tornar conhecida, a gente precisa estar presente nos networkings, nos encontros que acontecem para empreendedores e empreendedoras e a gente sente um bloqueio e acha até que esses lugares não são pra nós".
Josana Amado decidiu empreender no ramo dos aromatizadores naturais com as irmãs
Carlos Trinca/EPTV
As três mulheres fazem parte de um programa especial para afroempreendedores em Ribeirão Preto, que visa impulsionar mais pessoas negras nos próprios negócios, dando força e motivando-os com exemplos de que sonhos podem ser realizados.
O projeto foi desenvolvido pelo Instituto ConecTwoo, organização sem fins lucrativos, e lançado nesta quarta-feira (20), Dia da Consciência Negra.
Grana Preta
Segundo a co-fundadora Sabrina Macário, diretora do instituto, a ideia é ajudar afroempreendedores a lidar com o negócio e também com o racismo no mercado.
"O programa foi criado pensando primeiro no mapeamento, porque quando a gente foi procurar afroempreendedores, a gente pensou 'onde estão estes afroempreendedores, que tipos de empreendimentos são os deles, que segmentos eles estão?' E não encontramos, não foi fácil encontrá-los. E aí fomos lançar esse programa que é de mapeamento, capacitação, habilidades técnicas e comportamentais, que são necessárias também para o empreendedor".
Afroempreendedores: programa oferece qualificação gratuita para impulsionar vendas
O projeto começou com um grupo experimental que recebeu orientações em julho deste ano. A programação do curso prevê aulas, palestras e atividades, com direito a lição de casa para estimular os afroempreendedores a superarem seus limites.
"A partir do momento que nós tivemos acesso a algumas mentorias pelo programa, a gente vai se fortalecendo, vai se comunicando melhor, vai se fortalecendo com letramento racial, porque temos como nos posicionar. Está sendo um desafio ainda, mas a gente já está conseguindo estar presente em todos os lugares e a gente já entendeu que pode estar onde a gente quiser".
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